FUMAÇA MÁGICA 314

São Gonçalo dos Campos/BA

 

FELIZ NATAL BÁSICO

 

HUGO CARVALHO*  

 

S

ão Gonçalo dos Campos, contrariando a regra cultural da civilização cristã, não se iluminou, nem se engalanou neste Natal. Quem frequenta as noites são-gonçalenses deste final de ano, ao menos até agora, não é brindado com as festivas luzes, cores e símbolos que costumam despertar na cidadania, sentimentos de paz e de fraternidade.  

A ausência das emblemáticas manifestações alusivas à data faz pairar no ar certa sensação de desencanto e vazio no espírito coletivo. É como se estivesse faltando algo. Cessa tudo.

Em contrapartida o Governo Municipal ao não investir na decoração natalina, optou por distribuir 4 mil cestas básicas, certamente para a população de baixa renda, mais necessitada. Uma inédita medida que não preenche o vazio acima aludido posto que, para tudo na vida, há um tempo certo. Já imaginaram se todas as cidades brasileiras que se ornam para o Natal, adotassem igual procedimento? 

Neste momento, aqui no meu recanto de meditações, meu charuto-companheiro me indaga quanto à justeza da iniciativa, anunciada em singelas placas colocadas nos dois principais acessos da cidade, levando-me a algumas ponderações. 

Quatro mil cestas básicas, em tese correspondem a quatro mil famílias. Quatro mil famílias, tomando-se como base quatro membros por família, significa que, indiretamente, algo ao redor de 16 mil pessoas serão brindadas com o inusitado presente natalino.  

Por outro lado, considerando-se que somos cerca de 32 mil são-gonçalenses, sou levado a concluir que metade de nossa população se encontra na faixa limiar da pobreza, assim fazendo jus ao recebimento de uma cesta básica. Tudo bem! Vá lá que seja! Somos pobres mesmo. 

Agora, fica a indagação sobre a composição e respectivo valor da cesta básica municipal para que os cidadãos possam tomar conhecimento do montante investido, em substituição aos gastos com a decoração da cidade. Espera-se também, a título da transparência das contas públicas em dias de modernidade, que se publique em mídia eletrônica, a relação das quatro mil famílias beneficiadas e que, sejam quais forem os resultados da medida, isto não vire modismo.  

Os gastos com a cultura de um povo podem parecer supérfluos ou desnecessários, mas não o são. Um povo sem cultura é um povo sem identidade. Como diria o saudoso Gonzaguinha, “a gente não quer só comida, a gente quer diversão e arte”. 

Este ano, portanto, fujo à regra e seguindo o que acontece por aqui, desejo a todos os que me lêem um Feliz Natal Básico.


É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk

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HUGO CARVALHO - economista gaúcho que se fez baiano em 1965, aos 24 anos de idade. Missivista por força de ofícios quando jovem, hoje, aposentado, mata saudades do passado escrevendo crônicas.

 

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