FUMAÇA MÁGICA 308

São Gonçalo dos Campos/BA

 

EFEITO ESTUFA

 

HUGO CARVALHO*  

 

M

inha querida São Gonçalo dos Campos da Bahia vem de ingressar em tempos da modernidade. No local onde funcionou um dos nossos muitos armazéns de beneficiamento de fumos, foi inaugurado um mini-shopping dotado das conveniências e comodidades que integram o cenário do mundo globalizado.

Gente de coragem! Tanto o investidor, filho da terra, meu amigo Fernando Mascarenhas, quanto os comerciantes que prestigiaram a iniciativa, estabelecendo lojas de moda, butiques, calçados, lan-house, caixa eletrônico, auto-escola, coisas afins. E, como não poderia deixar de ser, um agradável bar e restaurante. Pelo mobiliário, pela bebida honesta, pela saborosa comida e pela gentileza do pessoal.

De quebra, com uma significativa vantagem sobre os bares do calçadão da cidade, onde rabisquei sei lá tantas crônicas passadas, enquanto fumava um charuto.

No novo ponto etílico não há como estacionarem veículos com seus estridentes alto-falantes, atanazando a vida de qualquer cristão. O som, quando não ao vivo, vem de uma destas TVs planas coladas à parede, que estão em todos os cantos e recantos, transmitindo vídeos de boa música, a nível audível.

Mais ainda. Ali não se discriminam, nem se patrulham, apreciadores de charutos, como está acontecendo na Paulicéia na qual, tutores das vontades alheias, em seu desvairado puritanismo, usam da máquina pública, para se arvorarem em salvadores da humanidade. Fazem-me evocar os fiscais do Sarney, que davam tudo para encontrar uma coca-cola mais cara e poderem aparecer na TV.

Ando com pena dos paulistas que, nos finais de tarde, estão sendo proibidos de estar num bom bar, num bom papo, desfrutando um bom charuto, sem que ninguém torça o nariz ou vire a cara e, o que é pior, correndo o risco de serem moralmente intimidados pelos guardiões da saúde, fiscais que com seus coletes lembram agentes da Polícia Federal. Aí me indago, por qual a razão que não dão um pulinho até a cracolândia? Do jeito que estão sendo postas as coisas, aqueles como eu, que não abrirão mão do direito de fumar bebendo um drinque, acabarão virando caso de polícia.

Ando com pena dos meus amigos paulistas, farejando lugares onde, nos finais de um dia atribulado, possam associar álcool e tabaco. Duas das úteis inutilidades que nos fazem, quando as apreciamos, nos sentirmos gente, equilibrando a eterna dicotomia com a qual se debate o ser humano.

Yes! Nós temos shopping! Sem placas proibitivas e sem fiscais, na mais importante cidade produtora de charutos do Brasil.

É onde me encontro agora, ante um friozinho nordestino, relaxando, escrevendo, bebendo e desfrutando meu charuto companheiro. Fumaças ao ar!

Paulistas, apreciadores dos charutos, bebedores! Correi! Vinde para São Gonçalo dos Campos enquanto é tempo. Enquanto não tentem também provar, estatisticamente, ser a fumaça dos charutos uma das causas do efeito estufa.


É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk

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HUGO CARVALHO - economista gaúcho que se fez baiano em 1965, aos 24 anos de idade. Missivista por força de ofícios quando jovem, hoje, aposentado, mata saudades do passado escrevendo crônicas.

 

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São Gonçalo dos Campos