FUMAÇA MÁGICA 299

São Gonçalo dos Campos/BA

 

ESTARÃO FAZENDO O MESMO?

 

HUGO CARVALHO*  

 

N

a companhia do meu charuto, vivo matutando quanto à enorme distância qualitativa que separa os ensino público e privado e o que fazer para se dar um basta a tal estado caótico de coisas. Tais meditações me levaram a concluir que grande parte da responsabilidade cabe a pessoas como eu que, quando se trata da educação dos filhos, sempre têm virado as costas ao ensino público. Afinal, pensava, se tenho condições de matriculá-los em escolas particulares, por qual motivo irei “sacrificá-los”, na rede pública. Neste ano tomei uma decisão que não foi unânime na minha rede de relacionamento pessoal e familiar. Passei, como cidadão, a fazer meu papel pela transformação. Matriculei meu filho de 10 anos na rede estadual de ensino.

“Você está ficando maluco?”, tenho sido questionado. Não! Não estou maluco. Depois que ingressei na militância política, entendi que devo alinhar o discurso com a prática, exercer meu papel como agente social. Vendo de perto as deficiências do ensino público, passarei a atuar, dentro da escola, na luta pelas necessárias melhorias. A tarefa poderá parecer inglória, mas sei que valerá a pena.

Ao olharmos para nossa realidade constatamos que “talvez não haja maior prova de desapreço para com a educação com as crianças do povo, do que ter os filhos dos dirigentes brasileiros, salvo raras exceções, estudando em escolas privadas. Esta é uma forma corrupção discreta da elite dirigente que, ao invés de resolver os problemas nacionais, busca proteger-se contra as tragédias do povo, criando privilégios. Além de deixarem as escolas públicas abandonadas, ao se ampararem nas escolas privadas, as autoridades brasileiras criaram a possibilidade de se beneficiarem de descontos no Imposto de Renda para financiar os custos da educação privada de seus filhos. É injustificado que depois de tanto tempo de proclamada a República, o Brasil continue tendo duas educações – uma para os filhos de seus dirigentes e outra para os filhos do povo – como nos mais antigos sistemas monárquicos, onde a educação era reservada para os nobres”.

As palavras do parágrafo anterior não são minhas. Faço-as. São do senador Cristóvam Buarque, justificando projeto encaminhado ao Senado em 2007, determinando a obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até o ano 2014. E quando agora, acabo de tomar conhecimento do assunto, me dou conta das indiscutíveis consequências éticas, políticas e estratégicas que advirão se aprovada a iniciativa. Aí sim, quando as elites sentirem os problemas na própria pele, sumirão os discursos vazios e demagógicos. Teremos a solução para a escola pública.

Claro está que o comércio da educação privada irá bradar, espernear e tentar de todas maneiras inviabilizar a louvável idéia. Afinal, este filão milionário cresce dia a dia, a olhos vistos. Com a omissão e o beneplácito daqueles que têm a responsabilidade de dar o exemplo.

Meu charuto me parabeniza. Estou fazendo a minha parte. E, me pergunto, os homens públicos de nossas cidades, para não irmos mais longe, estarão fazendo o mesmo?


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HUGO CARVALHO - economista gaúcho que se fez baiano em 1965, aos 24 anos de idade. Missivista por força de ofícios quando jovem, hoje, aposentado, mata saudades do passado escrevendo crônicas.

 

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