FUMAÇA MÁGICA 289

São Gonçalo dos Campos/BA.

 

AMÉM

 

HUGO CARVALHO*

 

A

cabo de receber uma visita muito especial. A turma da televisão, sempre interessada em coisas exóticas e diferenciadas dos lugares-comuns da vida, me honra em cá estar, no meu local de vivência, tentando estabelecer conexões entre minha casa, a vida de um homem do interior, meu dia a dia e meus charutos.

 

O que não é difícil. Afinal, em tempos idos, do alvorecer ao anoitecer, sempre estiveram eles intimamente ligados a mim. Agora, avançado nos anos da vida, o tempo prazeroso de antes, quase todo dedicado aos “puros”, divido-o com outros prazeres-afazeres de um aposentado que, ainda, não conseguiu se desvencilhar do inexorável ritmo das horas e que as segue perseguindo com as mesmas cadência e pontualidade dos tempos juvenis.

 

A conversa com o repórter descambou para as linhas divisórias imaginárias que, com o passar do tempo, venho estabelecendo para o desfrute dos meus charutos, nos locais onde convivo. Em dias onde o “politicamente correto” tende a ser marca registrada do comportamento em sociedade, nada mais natural que nos munamos de precauções e cautelas para não ferir sentimentos e, muito menos, narinas de indefesos circunstantes.

 

Por isso, mesmo morando em casa interiorana, quase secular, daquelas com portadas e teto altíssimos, privo-me ao prazer de freqüentá-la fumando. Faço-o às varandas e satisfaço-me. Mais ainda quando, em dependências ao fundo, no quartel-general onde se ordena meu pensamento, único soldado da tropa de elite do meu exército, a ordem unida é dada com um charuto às mãos. E no livre-pensar-fumar jorram idéias, projetos, crônicas. É o tal do ócio criativo.

 

O repórter, acho eu, deu-se por satisfeito. Manias à parte, mesmo noutros locais – e comprovei-lhe – deixo meu charuto-companheiro à porta. Ali fica, debruçado sobre o beiral de uma varanda, esperando-me, enquanto cumpra meus compromissos cidadãos. À saída, lá está – impávido colosso – pronto para voltar a ser apreciado, para fazer-me companhia e para passear comigo nas tranqüilas ruas da cidade de Sãogonçalodoscamposdabahia.

 

Coisas típicas da vida no interior. Amém


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HUGO CARVALHO - economista gaúcho que se fez baiano em 1965, aos 24 anos de idade. Missivista por força de ofícios quando jovem, hoje, aposentado, mata saudades do passado escrevendo crônicas.

 

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São Gonçalo dos Campos