FUMAÇA MÁGICA 287

São Gonçalo dos Campos/BA.

 

TRÂNSITO

 

HUGO CARVALHO*

 

 

C

idade pequena tem lá seus problemas. Na minha São Gonçalo dos Campos da Bahia, cuja população anda estagnada ao redor das trinta mil almas de acordo com o IBGE, mas em desacordo com os governantes locais, houve-se por bem modificar o tráfego de veículos no centro da cidade.

 

Modificar é força de expressão. O que se fez foi impedir a circulação, no nódulo central, de caminhões, ônibus, carretas e veículos de igual porte. Uns mal cheirosos, que transportavam aves para os abatedouros-frigoríficos implantados no município. De tão mal cheirosos, davam ânsias no estômago e tiravam a vontade de qualquer cristão em degustar um bom charuto da terra. Os ônibus interurbanos, por sua vez, por um cacoete provinciano, também circulavam pelas ruas e praças centrais, fazendo vontades a passageiros mal acostumados, parando aqui e acolá. Tudo isso comprometendo as estruturas seculares do casario da praça central e da própria igreja matriz. 

 

Com tais medidas, o trânsito no centro da minha querida cidade, ficou uma maravilha. Defensores da nova sistemática entoaram loas. Opositores políticos iniciaram uma campanha de descrédito das traves colocadas em determinadas ruas, para impedir o acesso de veículos de grande porte. Só que estes têm esquecido de apresentar alternativas. Passaram a criticar pelo prazer de fazê-lo. Passaram a criticar, pois isso costuma dar mais ibope do que enaltecer ou contribuir para aperfeiçoar iniciativas de terceiros. Democracia participativa não se constrói com críticas e sim com sugestões.

 

Surgiram problemas com a modificação viária? Claro que surgiram. Mas, melhor seria se os que criticam, procurando assanhar a opinião pública, pusessem suas cabeças a pensar e sugerissem - se não diferentes soluções - meios e formas de se contornarem os impasses advindos das medidas tomadas. E não permanecessem em conhecidas elucubrações tipo ser preciso antes educar o povo e coisas outras de tal jaez.

 

Todos – isso é unanimidade – concordam que o sistema viário não poderia continuar como antes. Todos sabem que o traçado da cidade não estava preparado para o aumento significativo do número de veículos em circulação. Isso, todavia, não impede que se intentem fórmulas de se levar o “trânsito pesado” para as vias no entorno do núcleo central, resolvendo-se os “acidentes de percurso” e os conflitos, passo a passo, ponto a ponto.

 

E, sem querer dogmatizar, quem estiver contra isso estará contra o desenvolvimento da própria cidade. Estará, outrossim, querendo manter o status quo das conveniências dos comodistas e dos retrógrados.


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HUGO CARVALHO - economista gaúcho que se fez baiano em 1965, aos 24 anos de idade. Missivista por força de ofícios quando jovem, hoje, aposentado, mata saudades do passado escrevendo crônicas.

 

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São Gonçalo dos Campos