FUMAÇA MÁGICA 281

São Gonçalo dos Campos/BA.

 

TERRORISMO MUNICIPAL

 

HUGO CARVALHO*

  

A propósito de coisas que acontecem na minha cidade 

A

o se falar de terrorismo acodem logo lembranças de atos tais noutros países e, queiramos ou não, nos dias que correm, nos quais um grande divisor separa muçulmanos e cristãos, ocorrem logo, e também, imagens de seres barbudos e de turbante. Neste “entrevero” não nos acode a idéia que o terrorismo está presente igualmente em nossas pacatas vidinhas. Falo, mais uma vez, da província de São Gonçalo dos Campos da Bahia, católica, evangélica, adepta do candomblé, espírita, charuteira e nada muçulmana, no qual vivo e onde sei que farei pó meus ossos. Aqui, neste pacato recanto, onde milhares e milhares de candidatos aparecem, vindos de outros recantos, para se inscrever num concurso municipal e onde a política vara todos os dias do ano, atos de terrorismo, até então inéditos acontecem. Extrapolam os limites do município, ganham as manchetes televisas e jornalísticas estaduais. Prova maior do quanto a política habita as vidas são-gonçalenses, está no fato da emissora de rádio local – potente por sinal, nos seus 10 mil watts – levar ao ar, todos os dias, três programas de indisfarçado cunho político, de distintos matizes.

O programa matutino, mais longo e mais combativo, tem com sua postura, dissociada das tradicionais lideranças políticas locais, acirrado ânimos, provocado debates e aumentado os ibopes da vida. Mas, como não poderia deixar de ser, também tem incomodado muita gente. Tanto que o radialista-âncora já passou por maus momentos. Dias atrás, desconhecidos o seqüestraram em seu carro, levaram-no a um local ermo e – deduzo eu – propositadamente, o deixaram fugir. Se quisessem matá-lo o teriam feito. Seu carro, porém foi incendiado. Queriam apenas atemorizá-lo.

Destemido que é, o radialista prosseguiu em seu trabalho e agora, os terroristas incomodados, na pretensa tentativa de calar a voz que os incomoda, resolveram atear fogo nos transmissores da estação de rádio. Um 11 de setembro bem mambembe, mas que, nem por isso, deixa de causar prejuízos e de comover a pacata população de nossa cidade.

Resta agora às autoridades policiais deitarem mão neste Bin Laden local. O mais provável é que não conseguirão fazê-lo, assim como os americanos não conseguiram até hoje.


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HUGO CARVALHO - economista gaúcho que se fez baiano em 1965, aos 24 anos de idade. Missivista por força de ofícios quando jovem, hoje, aposentado, mata saudades do passado escrevendo crônicas.

 

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