FUMAÇA MÁGICA 280

São Gonçalo dos Campos/BA.

 

L S D

 

HUGO CARVALHO*

 

V

ocê já se deteve sobre as iniciais da música dos Beatles Lucy in the Sky with Diamonds? Pois é. LSD. Surpreso? Pois esta é a viagem de abertura das portas da percepção à qual agora pretendo levar os que me lêem, com o auxílio da fumaça mágica do meu charuto companheiro.

Em 2006 comemorou-se o centenário de nascimento do pai de uma descoberta controvertida: o LSD. Ao tempo dos hippies da contracultura tal foi a droga mais difundida. O cara que descobriu o LSD, o químico suíço Albert Hofmann, chegou aos 100 anos gozando a mais perfeita saúde. Se a usava, não sei. Mas isso é, no mínimo, curioso.

É claro que o pesquisador suíço não criou o LSD para que um bando de doidões desocupados ficasse viajando em sons e cores de outra dimensão. Aliás, a descoberta foi acidental. Quando pesquisava um fungo que atacava o centeio, Dr. Hofmann absorveu, através da pele, uma quantidade mínima do ácido dietilamida d-lisérgico e começou a sentir vertigens e ter visões de cores em uma grande variedade caleidoscópica. Naquele paraíso das cores, ficou bem “doidão”, no popular.

De suas pesquisas e das do psicólogo americano Timothy Leary, um hippie meio maluco, falecido em 1996, considerado o guru do LSD vez que o usava intensivamente no tratamento de seus pacientes, conheceram-se os benefícios de uma substância capaz de ampliar os horizontes mentais a níveis insuspeitados. E que de quebra, abria as portas para regiões ocultas do inconsciente. O grande risco: danos irreversíveis na mente ou uma viagem sem volta.

O fato, porém é que, para o bem ou para o mal, muito da cultura libertária dos anos 60, auspiciosa de uma nova era, se deve ao ácido lisérgico. Sua influência nas artes foi decisiva nos tempos do flower-power. As telas se encheram de cores vivas, brilhantes. As músicas tinham sons estranhos, climas bizarros e texturas densas. Tudo sugeria e insinuava visitas a paraísos artificiais.

“Ouvir” as cores e “ver” os sons eram típicos sintomas das viagens promovidas pelo LSD. Para ficarmos nos mais conhecidos, Jimi Hendrix, Bob Dylan, The Doors, Beatles, Rolling Stones e Pink Floyd, foram roqueiros que penetraram naquela estranha realidade e mudaram sua música.

Help, composição dos Beatles, história de alguém em meio a uma bad trip, teria tido influências diretas do mundo psicodélico. E Lucy in the Sky with Diamonds, por suas iniciais, é explícita até no nome.

O LSD “saiu da moda” mas, sem dúvida, o movimento psicodélico, por ele originado, nunca será esquecido. Da mesma forma nunca esqueceremos que o ácido foi, e continua sendo, cruel com aqueles que ignoram seus perigos.

Ainda bem que minhas costumeiras “viagens” com meus charutos, além de terem volta assegurada, são muito mais tranqüilas.


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HUGO CARVALHO - economista gaúcho que se fez baiano em 1965, aos 24 anos de idade. Missivista por força de ofícios quando jovem, hoje, aposentado, mata saudades do passado escrevendo crônicas.

 

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