FUMAÇA MÁGICA 279

São Gonçalo dos Campos/BA.

 

NÃO SOU EXCEÇÃO

 

HUGO CARVALHO*

 

Em homenagem a meu leitor

Sérgio Murilo Corrêia Menezes

 Aquela sensação de abandono numa ilha deserta, típica do momento em que a jangada parte e a gente fica, é a mesma que nos incomoda quando vemos que o tempo passou e nos damos conta de que tudo quanto (des)fizemos foi um nada, ante todos os sonhos curtidos e urdidos a dois, ou na silenciosa solidão do nosso recolhimento.

 Os fogos de artifício que explodiam dentro de nós, a todo instante, fazendo-nos adolescentes sonhadores, já não espocam com o colorido brilho e a força intensa de outrora. Um frio mortal percorre a espinha dorsal e nos transforma em gelo, congelando nossas emoções. Um misto de desencanto e desilusão nos transtorna, ao olharmos os caminhos percorridos. O reconhecimento social pelo papel de ser-se ator e autor da vida, em grupo, é um nada. Menor do que o tempo de cerrarem-se as cortinas do espetáculo.

 Ao atingirmos a terceira idade, não a cronológica, mas a profissional, experientes e velhos profissionais, nos vemos quase sempre confundidos com profissionais velhos e imprestáveis.  E bate, queiramos ou não, aquela dor doída do quase nada que representa aposentadoria na empresa privada, colocando o homem no campo das coisas descartáveis. E com tanta coisa para ser feita, com tanta experiência sendo necessária, com tanta prudência se fazendo importante.

 Nada de clubes da terceira idade. Abaixo os esforços que tentam reunir velhos com idosos e vice-versa. As escolas, os clubes de serviço, as organizações não governamentais, os sindicatos, os escalões públicos administrativos, a sociedade civil organizada, deveriam reservar uma fatia dos seus cargos e funções para aposentados, evidentemente que com experiência profissional pretérita nos misteres a que forem convidados.  Por certo que os velhos profissionais viriam a prestar enorme contribuição em prol do desenvolvimento do país e no treinamento das novas gerações. Eu não sou exceção neste mar de desencantos. Como um náufrago me debato e tento, com meus escritos e na companhia dos meus charutos, devolver a meu modo, à sociedade, um pouco do muito que a vida me concedeu.


É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk


HUGO CARVALHO - economista gaúcho que se fez baiano em 1965, aos 24 anos de idade. Missivista por força de ofícios quando jovem, hoje, aposentado, mata saudades do passado escrevendo crônicas.

 

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