HUGO CARVALHO*

O caso de amor da França com o tabaco é antigo. Tem mais de quatro séculos. Vem do tempo em que a nicotina recebeu seu nome de Jean Nicot, embaixador do século 16 em Portugal, que levou folhas de fumo para Catarina de Médici, como cura para suas enxaquecas reais. E, afora tudo isso, o hábito de fumar tem um quê bem francês. Franceses famosos fumaram. Jean-Paul Sartre, Colette, Cocteau, Camus e Coco Chanel se alinham entre outros muitos que marcaram presenças nas artes, no cinema, na literatura.

Mas, apesar de todo o charme francês, o hábito de fumar em público também lá, a exemplo de muitos outros países, perde espaço cada vez mais. Quer chegar-se agora ao extremo de proibir-se o fumo em áreas públicas.

Como não poderia deixar de ser, nem todos concordam com a crescente onda antitabagista francesa. Para fumantes inveterados e muitos comerciantes do ramo fumageiro, a campanha reflete a perda de um valor francês fundamental: os direitos do indivíduo.

“Eu considero isto como um ataque pessoal”, disse André Santini, um membro do Parlamento e fumante compulsivo de charutos. “O que me perturba são os aiatolás que você encontra em toda parte. Eles lhe dizem como se deve fazer amor, como se deve comer”, completou.

O fato é que, gostemos ou não, devemos entender que, com inteligência, os apreciadores do tabaco, poderão continuar curtindo o hábito sem que, com isso, perturbem os que temam ou não apreciem o aroma da fumaça. E os franceses por certo, também saberão criar seus clubes fechados e confrarias nos quais os aficionados poderão continuar curtindo os prazeres do fumo. Como o fizeram, por muito tempo, no passado, para os prazeres da carne. Os tempos estão mudando.

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HUGO CARVALHO - economista gaúcho que se fez baiano em 1965, aos 24 anos de idade. Missivista por força de ofícios quando jovem, hoje, aposentado, mata saudades do passado escrevendo crônicas.

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São Gonçalo dos Campos