FUMAÇA MÁGICA 275

São Gonçalo dos Campos/BA.

 

PÁGINAS DA VIDA

 

HUGO CARVALHO*

 

Sonhar não faz mal. Nem quando sonhos do passado tenham se desfeito em blues, ouvidos por desatentos ouvidos. Afinal, as saudades que ficaram, freqüentadas por desencantos, podem se transformar na prazerosa solidão do escrever doces lembranças, dividindo-as então, com muitos que, no tempo que passou sem o sentirmos, não testemunharam nosso (in) sucesso.

O fumo fora o contraponto da união. O azul, a cor da esperança. Os charutos, os companheiros calados. O blues, a expressão das tristezas.

Com olhos de fumaça e cafeína, um compositor exilado, um letrista desgarrado e um cantor amante da noite juntaram-se num projeto sonhador, algo como um amor não correspondido, formando o começo e a base do “Cigar Blues”.

Poderia ter sido “Blues Dreams”. Sonhos azuis, gosto mais.

Que, de olhos abertos, cantando, sonhavam fazendo outros sonharem seus sonhos. É verdade que viagens, discussões, adeuses, enganos, demissões, ouvidos duros, humilhações, fizeram parte da história, naquelas noites mal dormidas e de depressões dos que, em meio ao caminho, foram compelidos a abandonar o barco.

E o sucesso? Ah! o grande sucesso sempre almejado, sempre adiado, mal interpretado, não correspondido, embriagador, machucado, triturado. Feito um pó, como a poeira das estrelas, que rasgando a noite deixa tudo iluminado. Um pó que libera as emoções, confunde os sentidos e faz a vida se vestir de azul.

E mais cigars...Incompreendidos, inaceitos, vaiados, perseguidos, rejeitados, fazendo virar a mesa onde se apostaram todas as fichas nos sonhos da cor do céu.

Mas, cigars são blues; blues são cigars. São paixão. Voltaram, entremeados a pagodes e forrós, agora com dois outros tocadores.

O fã endinheirado, alma carnavalesca, que com sua guitarra insone, se converteu no maestro, e o destemido baixista, menor que o próprio baixo e despreocupado com seus acordes dissonantes.

E o grande, o inesquecível final, o sonhado sucesso de uma noite eterna, amanhecendo em manchetes de primeira página?

Está sempre por acontecer para aumentar, ainda mais, a doce melancolia de compartilhar agora os sonhos azuis, vividos naquelas enfumaçadas páginas da vida.


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HUGO CARVALHO - economista gaúcho que se fez baiano em 1965, aos 24 anos de idade. Missivista por força de ofícios quando jovem, hoje, aposentado, mata saudades do passado escrevendo crônicas.

 

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