FUMAÇA MÁGICA 274

São Gonçalo dos Campos/BA.

 

IR PARA A BAHIA

 

HUGO CARVALHO*

 

Sertão é palavra de etimologia obscura. Sempre se referindo ao interior do país e, portanto com o significado de “região agreste, distante das povoações ou das terras cultivadas”, já vamos encontrar o emprego do termo seja no escrivão Pero Vaz de Caminha, seja no Padre Antônio Vieira.

As tentativas para caracterizar “sertão” têm sido mais convencionais do que reais e o nome fixou-se no Norte e no Nordeste, muito mais do que no Sul. Aliás, o interior do Rio Grande do Sul não é sertão. É pampa, quando muito. Sertão pode-se dizer é o interior de Goiás e de Mato Grosso.

Cá na Bahia, tirante a Capital e a faixa litorânea correspondente à zona da Mata Atlântica, todas as terras, as do norte principalmente, sempre foram tidas e tratadas como sertão. À palavra, com o passar do tempo, se associaram os conceitos da seca, das presenças do mandacaru e da caatinga. Talvez por isso alguns suponham, sertão ser uma forma contrata do aumentativo da palavra deserto, isto é, “desertão”. Falsa ou verdadeira, a hipótese não deixa de ter certa lógica, quando se entenda que deserto não somente seja uma região inóspita, mas que possa também representar um ambiente ausente da presença humana.

O tempo passou, nosso sertão povoou-se, mas continuou como tal sendo definido pelas gentes da Capital. E como “a Bahia tem um jeito que nenhuma terra tem” as terras da capital são chamadas Bahia e as restantes, sertão ou não, formam o interior.

Comum ouvir-se por aqui, neste quase-sertão onde vivo, alguém dizer que vai para a baia. E tem lógica isso, embora a grafia pareça incorreta, aos menos avisados. O ir para a baia tem tudo a ver com o antigo sistema de acesso do sertão à capital baiana. Ia-se para os mares da Baia de Todos os Santos, pegar um saveiro e com ele, velas ao vento, chegar-se à Salvador. Isto visto, fácil fica entender-se o atual ir para a Bahia. Coisas do linguajar sertanejo. Inteligente, astuto, paciente, delicado.


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HUGO CARVALHO - economista gaúcho que se fez baiano em 1965, aos 24 anos de idade. Missivista por força de ofícios quando jovem, hoje, aposentado, mata saudades do passado escrevendo crônicas.

 

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