HUGO CARVALHO*

Bom dia, tristeza.

Já que chegastes cedinho, sem seres convidada, venhas prosar comigo. Quero que me digas das razões destes apareceres repentinos e inesperados. Deste chegar mansinho, invadindo o coração da gente, trazendo  sem causa aparente, sentimentos de vazio e de desesperança.

Bom dia, tristeza.

Fiques tranqüila. Hoje não irei abrir a porta para te mandar embora. Já estou me acostumando às tuas indesejáveis aparições. Queres saber de uma coisa? Há momentos como agora, juro, nos quais por mais que tentes não irás diminuir minha auto-estima, nem tampouco fazeres me sentir inútil.

Bom dia, tristeza.

Senta-te. Acomoda-te e espera que eu prossiga. Hoje serei eu quem irá mexer com tuas emoções. Serei eu quem te tirará a concentração, quem te irritará, quem te deixará angustiada.

Tenhas paciência, tristeza.

Não me venhas com tuas habituais provocações. Deixes tuas frescuras de lado. Temos todo o tempo do mundo. E o tempo é o melhor dos remédios. Nada de pressas; nada de antidepressivos.

Tenhas paciência, tristeza.

Esperes que eu desfrute a companhia do meu charuto, meu melhor remédio, enquanto te fulmine com um olhar desconhecido. Não tenho nada a fazer agora e, já aprendi, que não poderás ficar por aqui a vida toda.

Adeus, tristeza.

É chegada tua hora-carruagem. Embarques logo e carregues contigo o teu mau humor e a tua melancolia. Agradeço que me deixes na santa paz dos meus escritos e, como sei que voltarás, por favor, te peço: voltes quando eu estiver dormindo.

Adeus, tristeza!

É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk

HUGO CARVALHO - economista gaúcho que se fez baiano em 1965, aos 24 anos de idade. Missivista por força de ofícios quando jovem, hoje, aposentado, mata saudades do passado escrevendo crônicas.

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São Gonçalo dos Campos