HUGO CARVALHO*

O título desta crônica não é de minha autoria, e explico. Tempos atrás, um atencioso e viajado leitor de minhas crônicas, apreciador de charutos tanto quanto eu, ao qual os anos se encarregaram de transformar num amigo, daqueles a quem a gente nunca abraçou, mas que parece haver partilhado conosco as brincadeiras da infância, os segredos da adolescência, me escreveu falando das aguardentes de boa estirpe.

Falando por falar, me dizia ele haver provado da “tal Anísio Santiago” e que houvera desapreciado “o trem”. Que lhe “queimara a língua, lhe descera rascando, pedra na garganta, burrico empacado bretando o cuspe”. Temeu fosse falsa, o que não deixa de ser possível. Afinal, as cachaças lá das Salinas, nas Minas Gerais, - Erva Doce, Cubana, Sabor de Minas, Havanilha, Preciosa, Brinco de Ouro, Brinco de Prata, Canarinha, Seleta, Anísio Santiago, Meia Lua e outras mais - todas "ardentes águas artesanais", correm mundo por suas afamadas qualidades.

E, das caninhas bebericadas em dias tristes ou felizes, meu amigo passou, sem pedir licença, para as fumaças dos charutos, prazer da paciência, segundo ele.  E não é que está coberto de razão?

A paciência é uma virtude. Paciência é, também, um jogo solitário. Paciência é perseverança tranqüila. A paciência é pacífica. Ser pacífico é ser amigo da paz. O prazer da paz. O prazer da paciência. O prazer do charuto. Pacífico amigo que, no jogo solitário da vida, nos faz tranqüila companhia, despertando em nós a virtude da paciência.

E, tenho dito. Ou melhor, temos dito.

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HUGO CARVALHO - economista gaúcho que se fez baiano em 1965, aos 24 anos de idade. Missivista por força de ofícios quando jovem, hoje, aposentado, mata saudades do passado escrevendo crônicas.

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São Gonçalo dos Campos