FUMAÇA MÁGICA 258

São Gonçalo dos Campos/BA, 02 de novembro de 2006

 

FAZENDO HISTÓRIA

HUGO CARVALHO*

 

Na Grécia nasceu o sistema político que, se não for o ideal, tem se mostrado o menos ruim. A democracia. E foi perto dali, onde se fez Roma que, segundo a lenda e em tempos nos quais ainda não se fumavam charutos, os gêmeos Rômulo e Remo, pendurados nas tetas da loba, nos ensinaram o método.

Pater e mater, vocábulos latinos dos romanos, nos deixaram descendências. Do primeiro são oriundos pai, padre, pátria. O segundo nos deu mãe, madre, mas não nos deu mátria. Deveria ter dado posto que, mamar nas tetas da mãe é coisa antiga e, nas da pátria, - que por tal deveria ser mátria – também.

Tudo isso a propósito de, em Terra Brasilis, havermos aperfeiçoado o helênico sistema. Acrescentamos ao mesmo, pitadas de servilismo feudal com toques pseudo-aristocráticos; juntamos colheradas de alegóricos casuísmos, nada éticos, com fortes fragrâncias anárquico-socialistas; temperamos com coronelismo clerical e discretíssimas notas de lírica cidadania igualitária. Não satisfeitos, e sem esquecer dos parentes e apaniguados, mesclamos alentadas doses de burocracia e mandamos agitar a massa pelos passistas de uma escola carnavalesca executando o samba-enredo “Pizza Nostra”. Nosso sistema ficou uma beleza!

Quanto ao latino hábito mamífero, fomos adeptos do mesmo, até pouco tempo atrás. Agora resolvemos abandona-lo. Não mais nos contentamos com o leite da loba. Afinal, leite é para as criancinhas. Enjoamos do leite e, por conseguinte, das tetas.

Viramos hematófagos.

Queremos pescoços.

E nisto, fomos mais longe.

Aperfeiçoamos outro processo.

O do conde da Transilvânia.

Nada de se cravarem dentes nas jugulares fraternas.

Temos os hemodutos, alegria dos angiologistas afeitos que estavam, até então, a singelas carótidas, femorais e artérias tais.

Hemodutos de generosos calibres.

Causam inveja ao boliviano gasoduto.

Estamos envergonhados em Terra Brasilis.

Antigamente dávamos o sangue pela pátria.

Recordemos os voluntários da Guerra do Paraguai.

Fizeram história.

Receberam, por conseqüência, justas homenagens.

Mereceram o nome em ruas.

Voluntários da Pátria.

 

Agora, muitos de nós, integrantes não íntegros do adaptado sistema grego, sugamos o sangue de nossos irmãos.

Também estamos fazendo história.

Merecemos estátua.

O nome?

Vampiros da Pátria.


É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk


Hugo Carvalho - é economista e cronista. Já publicou mais de duzentas crônicas, nas quais o tema "charutos" é recorrente. Volta e meia costuma inserir em seus textos, aspectos particulares da sua visão da vida em São Gonçalo dos Campos-BA.

 

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Via Skype: hbcarvalho


São Gonçalo dos Campos


Amigos.

Quando, há alguns anos, comecei a escrever sobre charutos era movido por preocupações de cunho meramente comercial. Marketing direto e telemarketing eram palavras da moda. 

Preocupava-me em explicar como são feitos os charutos, como são fumados, etc. Tais textos, quando hoje os releio, me parecem estéreis, enfadonhos. Transcrições adaptadas à minha linguagem, daquilo que outros disseram e redisseram, muito antes de mim, sobre a matéria.

Com o advento da Internet, então, nem se fala. “Choveram” sites sobre puros. Basta Você acessar qualquer um e irá encontrar, quase sempre, as mesmas ladainhas. Quantas vezes, navegando em sites charuteiros, encontrei palavras minhas (?). Ledo engano querer ensinar o padre-nosso ao vigário. Quem melhor sabe de charutos é Você que os consome. 

Evadi-me da vala comum. Abandonei as preocupações mercantis; troquei o marketing direto pelo Marketing de Relacionamento e passei a escrever pelo prazer de escrever e de fumar charutos.

Puxa! Como a vida mudou.

Agora, salvo ocasional recaída que o retrogosto dos puros provoca, não retroajo. Interajo consigo. Procuro dar novo sentido a nosso relacionamento tentando demonstrar serem os charutos, para quem neles se iniciou, parte integrante do cotidiano.

Tenho relutado em ter criado meu site na Internet, pois não gosto de falar com estranhos sem ter sido previamente apresentado. Não me sinto confortável em me expor para aqueles a quem não conheço. Essa característica pessoal meus charutos não corrigiram. Ao contrário, respeitam-na, pois eles não são para todo mundo. São apenas para pessoas especiais, como Você dileto amigo, que os curte nos, por si eleitos, melhores momentos de sua vida.

HUGO CARVALHO