FUMAÇA MÁGICA 257

São Gonçalo dos Campos/BA, 31 de outubro de 2006

 

O ENCANTO DO SOPRO

HUGO CARVALHO*

 

O sopro é um elemento presente em religiões e técnicas universais. É como se fosse uma essência da vida organizada pela sua mágica força comunicante.

Anima, spiritus do latim, significavam vento, corrente de ar, e daí, sopro, sopro divino, espírito divino, alma, espírito. O sopro é, na verdade, a concepção inicial materializadora da divindade. Na própria Bíblia vemos que o sopro divino teria sido a fonte da existência humana. Magia pura. Eliseu teria ressuscitado o filho da Sunamita, soprando-lhe na boca. Nos evangelhos do Novo Testamento, sopro e vento são figuras constantes, como manifestações de uma entidade superior. O sacerdote sopra na face da criança, que batiza, expulsando o espírito mau e instalando o Paráclito.

O sopro, por si mesmo, tem o efeito de se fazer sentir aquilo que não se vê, mas no qual se crê.

Nas cerimônias indígenas formavam-se círculos cujos integrantes recebiam lufadas de fumo sopradas por três ou quatro pajés, com a frase que os incitava ao próximo combate: “Para que vençais vossos inimigos, recebei o espírito da força”.

Aos feiticeiros se atribuía o poder de curar muitas doenças apenas soprando o lugar molesto. Isso subsiste no dia a dia de nossas vidas. A criança quando se machuca, a mãe costuma soprar sobre o ferimento para “parar de doer”. O sopro é um encantamento.

E os pajés sabiam, e como, de tal encanto. O sopro entrava em todas as cerimônias e atos. Com a mão fechada numa certa e determinada direção, e abrindo-a lentamente sem desvia-la, mandavam aos ausentes, por um simples ato do seu querer, a infelicidade, a doença e a morte. Era, soprando sobre a mão fechada e abrindo lentamente em gesto largo os cinco dedos, enquanto sopram, que espalhavam o mau tempo e desfaziam as trovoadas.

Eu confesso acreditar no encanto mágico do sopro. Tanto é que, em minhas baforadas, soprando as fumaças mágicas de meus charutos, encontro inspiração para falar com meus leitores, manifestar-lhes minha estima e levar-lhes alguns encantos da leitura amena.


É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk


Hugo Carvalho - é economista e cronista. Já publicou mais de duzentas crônicas, nas quais o tema "charutos" é recorrente. Volta e meia costuma inserir em seus textos, aspectos particulares da sua visão da vida em São Gonçalo dos Campos-BA.

 

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São Gonçalo dos Campos


Amigos.

Quando, há alguns anos, comecei a escrever sobre charutos era movido por preocupações de cunho meramente comercial. Marketing direto e telemarketing eram palavras da moda. 

Preocupava-me em explicar como são feitos os charutos, como são fumados, etc. Tais textos, quando hoje os releio, me parecem estéreis, enfadonhos. Transcrições adaptadas à minha linguagem, daquilo que outros disseram e redisseram, muito antes de mim, sobre a matéria.

Com o advento da Internet, então, nem se fala. “Choveram” sites sobre puros. Basta Você acessar qualquer um e irá encontrar, quase sempre, as mesmas ladainhas. Quantas vezes, navegando em sites charuteiros, encontrei palavras minhas (?). Ledo engano querer ensinar o padre-nosso ao vigário. Quem melhor sabe de charutos é Você que os consome. 

Evadi-me da vala comum. Abandonei as preocupações mercantis; troquei o marketing direto pelo Marketing de Relacionamento e passei a escrever pelo prazer de escrever e de fumar charutos.

Puxa! Como a vida mudou.

Agora, salvo ocasional recaída que o retrogosto dos puros provoca, não retroajo. Interajo consigo. Procuro dar novo sentido a nosso relacionamento tentando demonstrar serem os charutos, para quem neles se iniciou, parte integrante do cotidiano.

Tenho relutado em ter criado meu site na Internet, pois não gosto de falar com estranhos sem ter sido previamente apresentado. Não me sinto confortável em me expor para aqueles a quem não conheço. Essa característica pessoal meus charutos não corrigiram. Ao contrário, respeitam-na, pois eles não são para todo mundo. São apenas para pessoas especiais, como Você dileto amigo, que os curte nos, por si eleitos, melhores momentos de sua vida.

HUGO CARVALHO