FUMAÇA MÁGICA 256

São Gonçalo dos Campos/BA, 26 de outubro de 2006

 

PEGANDO NO TRANCO

HUGO CARVALHO*

 

Alguns e-leitores termo que lá na frente irei explicar disseram ter apreciado a experiência feita por mim há algum tempo na crônica intitulada Moto Perpétuo na qual sem parágrafos sem vírgulas e sem pontos as idéias foram pingando sem controle como numa torneira com vazamento e em função disto resolvi fazer um repeteco tendo o cuidado de como num automóvel velho e com problemas na partida só pegando no tranco e não podendo parar antes de chegar ao destino consultar meu mecânico ou melhor meu mexânico  pois o dito mexe mais do que conserta o qual me afirmou que o motor só funciona graças a uma fumacinha mágica que fica presa dentro dele e que quando tal fumacinha cheirando a queimado sai para fora o carro deixa de funcionar eu não estou comendo este agá - agá que é a inicial de meu nome posto que me é sempre ou quase sempre perguntado se é com agá ou sem agá e eu já estou acostumado à tal indagação antigamente quando eu era jovem e me considerava macho a toda prova respondia com voz forçadamente grave claro que é com a letra h de homem... hoje curtidor da vida informo que meu nome é com h de mulher e aí quando meu interlocutor ou minha interlocutora me olha com olhar de nada entender de forma gentil lhe recordo que como deve ser do seu conhecimento toda mulher também tem o mesmo agá do homem só que o dela fica no meio e é por isso que na mulher o agá vale alguma coisa enquanto que na frente do homem não vale nada pois agá na nossa fonética foi feito somente para andar acompanhado das letras ene ele e ce ou para representar uma aspiração em palavras interjetivas ou onomatopaicas tais como hã-hã há-há hum-hum et cetera e tal e todo este supositório digo introdutório embora todo supositório seja um introdutório a propósito do que tenho assistido na grande imprensa nos últimos tempos é só a última instância governamental da pátria amada ficar sem claras respostas às questões levantadas pela oposição que chovem noticiários outros de ações encetadas por órgãos repressores do contrabando do narcotráfico etc no dizer do vulgo eu não estou comendo este agá cavalo velho acostumado a correr em canchas de pista reta conheço bem tais cortinas de fumaça posto que fumaça é minha especialidade e é graças às fumaças dos meus charutos que estou sempre falando com meus queridos leitores que a partir de agora passam a ser meus e-leitores não que eu tenha sido candidato a nada pois já tivemos candidatos por demais acontece que a forma gráfica e-leitores quer significar leitores dos meus e-mails e por favor não se confundam como aquela senhora que a duras penas quis entrar na era digital aprendendo a se comunicar por e-mail e indagando a uma amiga qual a sua direção eletrônica essa lhe disse que era do Gmail ao que a solicitante de imediato respondeu que não servia pois ela havia estudado e-mail e não Gmail portanto meus e-leitores queridos continuem tendo paciência com este escriba e acreditem se quiserem escrever pegando no tranco é bem mais difícil do que escrever com pontos vírgulas efes erres e tudo o mais que se faz necessário para um perfeito entendimento se é que isto existe e francamente já estou cansado de tanta babaquice como uma certa foto que mostrou a bunda do Ronaldinho Gaúcho só porque o dito machucou as nádegas.

Vou fumar meu charuto em paz!


É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk


Hugo Carvalho - é economista e cronista. Já publicou mais de duzentas crônicas, nas quais o tema "charutos" é recorrente. Volta e meia costuma inserir em seus textos, aspectos particulares da sua visão da vida em São Gonçalo dos Campos-BA.

 

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Via Skype: hbcarvalho


São Gonçalo dos Campos


Amigos.

Quando, há alguns anos, comecei a escrever sobre charutos era movido por preocupações de cunho meramente comercial. Marketing direto e telemarketing eram palavras da moda. 

Preocupava-me em explicar como são feitos os charutos, como são fumados, etc. Tais textos, quando hoje os releio, me parecem estéreis, enfadonhos. Transcrições adaptadas à minha linguagem, daquilo que outros disseram e redisseram, muito antes de mim, sobre a matéria.

Com o advento da Internet, então, nem se fala. “Choveram” sites sobre puros. Basta Você acessar qualquer um e irá encontrar, quase sempre, as mesmas ladainhas. Quantas vezes, navegando em sites charuteiros, encontrei palavras minhas (?). Ledo engano querer ensinar o padre-nosso ao vigário. Quem melhor sabe de charutos é Você que os consome. 

Evadi-me da vala comum. Abandonei as preocupações mercantis; troquei o marketing direto pelo Marketing de Relacionamento e passei a escrever pelo prazer de escrever e de fumar charutos.

Puxa! Como a vida mudou.

Agora, salvo ocasional recaída que o retrogosto dos puros provoca, não retroajo. Interajo consigo. Procuro dar novo sentido a nosso relacionamento tentando demonstrar serem os charutos, para quem neles se iniciou, parte integrante do cotidiano.

Tenho relutado em ter criado meu site na Internet, pois não gosto de falar com estranhos sem ter sido previamente apresentado. Não me sinto confortável em me expor para aqueles a quem não conheço. Essa característica pessoal meus charutos não corrigiram. Ao contrário, respeitam-na, pois eles não são para todo mundo. São apenas para pessoas especiais, como Você dileto amigo, que os curte nos, por si eleitos, melhores momentos de sua vida.

HUGO CARVALHO