FUMAÇA MÁGICA 252 São Gonçalo dos Campos/BA, 08 de outubro de 2006 |
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SOLETRANDO |
HUGO CARVALHO*
Foi muito, muito divertido. Tanto que me dispus converter em texto a diversão. Tão agradável e enriquecedora, que estaria por merecer um bom charuto para acompanha-la. Tal não sendo aconselhável por envolver um menor de idade, tive que me conformar com o charuto enquanto palavra.
Vamos aos fatos. Meu guri menor, o mirim que completou seis anos no São João que se passou, às voltas com sua iniciação na leitura - a alfabetização é uma das mais importantes “iniciações” do ser humano - adora chegar de mansinho, como um canguru, pé ante pé, como se estivesse dando grandes saltos em câmara lenta, aqui por trás de mim, quando me encontro ao computador.
Debruçando-se carinhosamente no meu ombro, sem pedir licença, se esforça em tentar ler as palavras que, fugindo do teclado, se prendem velozes à luminosa tela do monitor de vídeo.
Pô pai! - protesta ele - Tá muito rápido, assim eu não posso ler! Como é que tua mão aprendeu a ver as letras?
Faço-me de desentendido, tentando não perder a linha de raciocínio que pautava meu texto. Impossível prosseguir. O guri insiste.
- Bota umas letras grandes pra eu ler, papai!
Não mais me faço de rogado. Digito em letras graúdas, fonte 22:
CHARUTOS
Malvadeza pura.
O menino ainda está no bê-a-ba, no dê-a-da e eu fui logo desafia-lo com a muralha de um CH e, ainda, com um plural.
Mesmo assim o bichinho não se intimidou.
Com o destemor dos que desconhecem as armadilhas da vida, aos trancos, começou a desfiar; eu rindo discretamente:
- Ce - agá – a – re - u - tô - si.
Tento ajuda-lo, explicando.
- Ce – agá – a: cha; re - u: ru; tô – si: tos. Charutos.
Ao que o guri, sabido a mais não poder, sai-se pela tangente, vingando-se de mim e dando-me uma bronca.
- Pô pai! Eu não tô lendo, eu só tô soletrando!
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Hugo
Carvalho
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São Gonçalo dos Campos
Amigos.
Quando, há alguns anos, comecei a escrever sobre charutos era movido por preocupações de cunho meramente comercial. Marketing direto e telemarketing eram palavras da moda.
Preocupava-me em explicar como são feitos os charutos, como são fumados, etc. Tais textos, quando hoje os releio, me parecem estéreis, enfadonhos. Transcrições adaptadas à minha linguagem, daquilo que outros disseram e redisseram, muito antes de mim, sobre a matéria.
Com
o advento da Internet, então, nem se fala. “Choveram” sites
sobre puros. Basta Você acessar qualquer um e irá encontrar, quase
sempre, as mesmas ladainhas. Quantas
vezes, navegando em sites charuteiros, encontrei palavras minhas (?). Ledo engano querer
ensinar o padre-nosso ao vigário. Quem melhor sabe de charutos é Você que os
consome.
Evadi-me
da vala comum. Abandonei as preocupações mercantis;
troquei o marketing direto
pelo Marketing de Relacionamento e passei a escrever pelo prazer de escrever e
de fumar charutos.
Puxa! Como a vida mudou.
Agora,
salvo ocasional recaída que o retrogosto dos puros provoca, não retroajo.
Interajo consigo. Procuro dar novo sentido a nosso relacionamento tentando
demonstrar serem os charutos, para quem neles se iniciou, parte integrante do
cotidiano.
Tenho
relutado em ter criado meu site na Internet, pois não gosto de falar com estranhos sem ter sido previamente apresentado. Não me sinto
confortável em me expor para aqueles a quem não
conheço. Essa característica pessoal
meus charutos não corrigiram. Ao contrário, respeitam-na, pois eles não são
para todo mundo. São apenas para pessoas especiais, como
Você
dileto amigo,
que os curte nos, por si eleitos, melhores momentos de sua vida.