FUMAÇA MÁGICA 246 São Gonçalo dos Campos/BA, 10 de setembro de 2006 |
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PALAVRAS CHULAS |
Quando eu tinha 10 anos – e disto já se passou bem mais de meio-século – determinadas palavras que hoje são de uso corrente, eram consideradas “palavrões”. Ai dos meninos, de então, que se atrevessem a pronunciá-las à frente de seus pais ou dos “mais velhos”.
Ainda me lembro. Um dia caí na asneira de exclamar, em casa, a palavra “merda”. Foi em 1950. Minha avó ao ouvir o impropério prontamente acorreu ao vidro com pimentas e apanhando algumas, as esfregou na minha boca.
Com os costumes também aconteceram grandes mudanças. Coitada das mocinhas que se deixassem seduzir por seus namoradinhos. Chegava-se a ponto de pais as expulsarem de casa, por haverem “ofendido a honra da família”.
Tenho dois filhos pequenos, “fins de rama” como dizem por aqui. E quando os mesmos, proferem tais palavras-tabus o máximo que me permito é alerta-los a não faze-lo posto que, como se considera na lingüística moderna, são “consideradas chulas, grosseiras ou ofensivas demais na maioria dos contextos”.
No Brasil de hoje, a palavra “porra”, embora sendo mais freqüente da linguagem masculina informal, é usada de inúmeras maneiras. Vamos ver?
Ela pode ter o significado de uma coisa muito ruim.
Vou jogar fora esta porra deste charuto que está entupido.
Ela pode funcionar como uma interjeição; expressão de surpresa ou espanto.
Porra! Que maravilha de charuto você está fumando! Que aroma da porra!
Ela pode expressar uma reação de dor ou aborrecimento.
Porra! Quem mexeu na minha caixa de charutos?
Já virou, até, nome de um livro de autoria do jornalista João Ximenes Braga. (“Porra” – Editora Objetiva – Ano 2003). Aliás, segundo o citado autor, “Porra pode ser um estado de espírito. Uma forma de encarar a vida e de ser encarada por ela. São apenas duas sílabas que dizem muito quando não se sabe muito o que dizer. Por isso, usamos e abusamos dela. Seja com sarcasmo, indignação, entusiasmo ou prazer. Não importa. É uma palavra-coringa capaz de iniciar e encerrar histórias cotidianas”.
Ninguém mais sabe que, antigamente, porra era sinônimo de porrete, de pedaço de pau, de cacete. E que daí veio “porrada”, sinônima de cacetada.
Tudo isso me ocorre a propósito do fato de um vereador da cidade onde vivo, ter pronunciado em plenário, a palavra “porra” e de se haver pretendido, por isso, dar-lhe uma bruta porrada, cassando seu mandato, por falta de decoro parlamentar.
Certo! Que o edil exagerou, disso ninguém duvida. Meus filhos, quando faltam com o decoro familiar, também exageram. Mas daí, a expulsa-los de casa é outra história.
Aos primários em suas infrações, antes dos rigores da lei, cabem as admoestações. Por isso, e ante tudo quanto se vê no cenário nacional, prevaleceu o bom senso na casa da lei. Os demais vereadores, juízes do seu companheiro porradeiro, guardaram os porretes e optaram pelo arquivamento do processo, deixando pra lá a porra daquele assunto.
É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk
Hugo
Carvalho
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São Gonçalo dos Campos
Amigos.
Quando, há alguns anos, comecei a escrever sobre charutos era movido por preocupações de cunho meramente comercial. Marketing direto e telemarketing eram palavras da moda.
Preocupava-me em explicar como são feitos os charutos, como são fumados, etc. Tais textos, quando hoje os releio, me parecem estéreis, enfadonhos. Transcrições adaptadas à minha linguagem, daquilo que outros disseram e redisseram, muito antes de mim, sobre a matéria.
Com
o advento da Internet, então, nem se fala. “Choveram” sites
sobre puros. Basta Você acessar qualquer um e irá encontrar, quase
sempre, as mesmas ladainhas. Quantas
vezes, navegando em sites charuteiros, encontrei palavras minhas (?). Ledo engano querer
ensinar o padre-nosso ao vigário. Quem melhor sabe de charutos é Você que os
consome.
Evadi-me
da vala comum. Abandonei as preocupações mercantis;
troquei o marketing direto
pelo Marketing de Relacionamento e passei a escrever pelo prazer de escrever e
de fumar charutos.
Puxa! Como a vida mudou.
Agora,
salvo ocasional recaída que o retrogosto dos puros provoca, não retroajo.
Interajo consigo. Procuro dar novo sentido a nosso relacionamento tentando
demonstrar serem os charutos, para quem neles se iniciou, parte integrante do
cotidiano.
Tenho
relutado em ter criado meu site na Internet, pois não gosto de falar com estranhos sem ter sido previamente apresentado. Não me sinto
confortável em me expor para aqueles a quem não
conheço. Essa característica pessoal
meus charutos não corrigiram. Ao contrário, respeitam-na, pois eles não são
para todo mundo. São apenas para pessoas especiais, como
Você
dileto amigo,
que os curte nos, por si eleitos, melhores momentos de sua vida.