FUMAÇA MÁGICA 244

São Gonçalo dos Campos/BA, 01 de setembro de 2006

 

LESTE

HUGO CARVALHO*

 

Desde sempre tem se tratado a Bahia como sendo parte integrante do nordeste brasileiro. Olha gente! Muito antes de eu sequer sonhar que na Bahia viesse morar um dia, vivendo então lá pelas bandas do quase-extremo-sul do país, na cidade-porto de Rio Grande, cujos nativos são carinhosamente chamados “papa-areias”, menino ainda, olhava o mapa e ficava namorando, namorando, aquele mundão de terra tendo em cima o nome Bahia, escrito com a letra “H”, e cantarolava, comigo mesmo, uma modinha popular cujos versos, me parece, eram assim:

“Meio dia, panela no fogo, barriga vazia, macaco torrado que veio da Bahia, fazendo careta pra dona Maria”.

E, aprendiz nas aulas de geografia ministradas pelos “padres” do Colégio São Francisco, “padres” no popular, posto que na realidade eram “irmãos Maristas”, me questionava sobre os pontos cardeais em relação ao território da pátria amada, salve, salve!

Confesso que nunca entendi a Bahia como sendo parte do nordeste. Nem mesmo quando, no começo dos anos sessenta, criaram a SUDENE- Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste, incluindo grande parte da Bahia no chamado Polígono das Secas, coisa que me cheirou mais a política do que a pluviometria, nem mesmo assim, consegui acreditar que a Bahia fosse nordestina.

Para mim a Bahia sempre foi e continuará sendo geograficamente leste. Aliás, certa estava a companhia que explorava a ferrovia daqui, em tempos que já vão longe. Em todos os seus vagões se viam as letras VFLB, iniciais de Viação Férrea Leste Brasileiro. Temos aí, a exata definição. Leste brasileiro. E aqui, no leste brasileiro, em tempos dos vagões, não havia essa norma adotada pelo sistema metroviário e ferroviário do Rio, segundo a qual deverão ser reservados, nos horários de pico, vagões exclusivos para as mulheres, para evitar masculinos abusos quando as composições estão lotadas. Acho que naquele tempo ou não tinha tanta gente, ou... Mas deixemos isso pra lá e não mudemos de assunto. O buraco é mais embaixo e o nordeste mais em cima.

Vivo no leste brasileiro. Nestas bandas orientais o sol nasce mais cedo. E, sempre, não esqueço de agradecer ao Criador por viver mais perto do Oriente. Para onde, passo a passo e inexoravelmente, caminhamos. Todos os dias.


É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk


Hugo Carvalho - é economista e cronista. Já publicou mais de duzentas crônicas, nas quais o tema "charutos" é recorrente. Volta e meia costuma inserir em seus textos, aspectos particulares da sua visão da vida em São Gonçalo dos Campos-BA.

 

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Via Skype: hbcarvalho


São Gonçalo dos Campos


Amigos.

Quando, há alguns anos, comecei a escrever sobre charutos era movido por preocupações de cunho meramente comercial. Marketing direto e telemarketing eram palavras da moda. 

Preocupava-me em explicar como são feitos os charutos, como são fumados, etc. Tais textos, quando hoje os releio, me parecem estéreis, enfadonhos. Transcrições adaptadas à minha linguagem, daquilo que outros disseram e redisseram, muito antes de mim, sobre a matéria.

Com o advento da Internet, então, nem se fala. “Choveram” sites sobre puros. Basta Você acessar qualquer um e irá encontrar, quase sempre, as mesmas ladainhas. Quantas vezes, navegando em sites charuteiros, encontrei palavras minhas (?). Ledo engano querer ensinar o padre-nosso ao vigário. Quem melhor sabe de charutos é Você que os consome. 

Evadi-me da vala comum. Abandonei as preocupações mercantis; troquei o marketing direto pelo Marketing de Relacionamento e passei a escrever pelo prazer de escrever e de fumar charutos.

Puxa! Como a vida mudou.

Agora, salvo ocasional recaída que o retrogosto dos puros provoca, não retroajo. Interajo consigo. Procuro dar novo sentido a nosso relacionamento tentando demonstrar serem os charutos, para quem neles se iniciou, parte integrante do cotidiano.

Tenho relutado em ter criado meu site na Internet, pois não gosto de falar com estranhos sem ter sido previamente apresentado. Não me sinto confortável em me expor para aqueles a quem não conheço. Essa característica pessoal meus charutos não corrigiram. Ao contrário, respeitam-na, pois eles não são para todo mundo. São apenas para pessoas especiais, como Você dileto amigo, que os curte nos, por si eleitos, melhores momentos de sua vida.

HUGO CARVALHO