FUMAÇA MÁGICA 241 São Gonçalo dos Campos/BA, 15 de agosto de 2006 |
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FILHA DO PAI |
Deixe-me explicar.
Empregarei no texto a palavra tia,
com o significado (aqui no Nordeste) de professora.
Aviso para não haja confusão com outras “tias”.
Especialmente “tias velhas”.
Hoje, em tempos de predominância das “famílias mosaico” no lugar das “famílias biológicas”, talvez o acontecido não se revista, de maior significado. Mas, há mais de trinta anos, quando o divórcio ainda não fora implantado no Brasil, a história não deixou de ser peculiar. A ponto de agora, fumando meu charuto, recorda-la com saudades.
Naqueles tempos, a regra era clara. As mulheres ao casarem passavam a adotar o patronímico do marido, mantendo o sobrenome paterno e abrindo mão do materno. Coisas de uma sociedade tipicamente patriarcal. Quando nasceu minha sexta filha, resolvi intentar uma “experiência”. Ao registra-la deixei de incorporar o sobrenome materno. Limitei-me a acrescer ao “Adriana”, escolhido pela mãe, o meu “Carvalho”.
Simples, pensava eu. No futuro, quando viesse ela a se casar, bastaria acrescentar ao seu nome, o patronímico do marido.
Mas as coisas não foram tão simples assim.
Aos quatro anos, fase em que as crianças começam a se auto-reconhecer com o auxílio das tias das escolas maternais, lá me chega em casa, a guria, indagando:
Painho, o meu nome é só?
Sem bem entender a indagação expliquei que seu nome era só Adriana Carvalho.
Mas não é só, painho? Insistiu ela.
É, é só! Respondi, quase contrafeito.
Dia seguinte, lá me volta a filha, esbanjando razão:
Painho! Eu disse pra tia que meu nome também era só, mas ela me disse que não tem só. Que é só Adriana Carvalho!
Foi quando a minha ficha caiu. A professora indagava aos alunos seus nomes respectivos.
Ao chegar a vez de minha filha, ela respondia:
Adriana Carvalho!
A professora contra-perguntava:
Só?
Sim, a “tia” tinha lá suas razões e foi quando me dera conta da “besteira” que fizera.
Os preconceitos sociais então vigentes, nestas bandas brasileiras, balizavam que nomes com apenas um sobrenome representavam “filhos sem pai”; crianças a quem os pais biológicos não haviam reconhecido e, pois, não registrado. Seriam, apenas “filhos... da mãe”.
Resultado do drama. Lá fui eu, com a ajuda de um advogado amigo, aditar ao nome da menina, no cartório de registros, o sobrenome materno “Costa Santos”.
Foi quando minha querida filha deixou de ser Só “filha... do pai”.
É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk
Hugo
Carvalho
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São Gonçalo dos Campos
Amigos.
Quando, há alguns anos, comecei a escrever sobre charutos era movido por preocupações de cunho meramente comercial. Marketing direto e telemarketing eram palavras da moda.
Preocupava-me em explicar como são feitos os charutos, como são fumados, etc. Tais textos, quando hoje os releio, me parecem estéreis, enfadonhos. Transcrições adaptadas à minha linguagem, daquilo que outros disseram e redisseram, muito antes de mim, sobre a matéria.
Com
o advento da Internet, então, nem se fala. “Choveram” sites
sobre puros. Basta Você acessar qualquer um e irá encontrar, quase
sempre, as mesmas ladainhas. Quantas
vezes, navegando em sites charuteiros, encontrei palavras minhas (?). Ledo engano querer
ensinar o padre-nosso ao vigário. Quem melhor sabe de charutos é Você que os
consome.
Evadi-me
da vala comum. Abandonei as preocupações mercantis;
troquei o marketing direto
pelo Marketing de Relacionamento e passei a escrever pelo prazer de escrever e
de fumar charutos.
Puxa! Como a vida mudou.
Agora,
salvo ocasional recaída que o retrogosto dos puros provoca, não retroajo.
Interajo consigo. Procuro dar novo sentido a nosso relacionamento tentando
demonstrar serem os charutos, para quem neles se iniciou, parte integrante do
cotidiano.
Tenho
relutado em ter criado meu site na Internet, pois não gosto de falar com estranhos sem ter sido previamente apresentado. Não me sinto
confortável em me expor para aqueles a quem não
conheço. Essa característica pessoal
meus charutos não corrigiram. Ao contrário, respeitam-na, pois eles não são
para todo mundo. São apenas para pessoas especiais, como
Você
dileto amigo,
que os curte nos, por si eleitos, melhores momentos de sua vida.
HUGO CARVALHO