FUMAÇA MÁGICA 240

São Gonçalo dos Campos/BA, 11 de agosto de 2006

 

CAIXAS DE SAPATOS

HUGO CARVALHO*

 

Antes de passar a fumar charutos,

eu não tinha estas feições paternas.

 

Era eu, sim,

uma mistura que,

a depender dos olhos de quem via,

com a mãe ou com o pai, me parecia.

 

Fui me perdendo aos poucos, de minha mãe, sem o sentir.

Acho que com ela, na verdade, nunca estive.

 

Nem mesmo quando resolveu partir

fui lhe deitar a derradeira flor,

nem derramar a derradeira lágrima.

 

Dela, os traços ficaram aprisionados

em fotos do passado,

para outras mãos passadas,

em velhos baús guardadas,

em álbuns,

em caixas de sapatos.

 

As fotos, muito antigas,

das coisas, há tempos perdidas,

o foram em preto e branco.

 

Para se dizer o que passou,

Outra cor não se precisa.

..............................................

 

Eu não tinha estes cabelos brancos.

 

Eram fartos,

foram grandes.

Eram pretos,

foram presos

em fotos do passado,

para outras mãos passadas,

em velhos baús guardadas,

em álbuns,

em caixas de sapatos.

..............................................

 

Eu não tinha essa força estranha

De retratar-me passo a passo.

 

Eu não tinha tempo no passado.

Para ver filhos crescerem

Para estar com os meus

Para dizer que os amava.

 

A tudo aprisionava

em fotos muitas, coloridas,

para outras mãos passadas,

em velhos baús guardadas,

em álbuns,

em caixas de sapatos.

..................................................

 

E, para que tantas fotos, se eu nem sei por onde andam as caixas de sapatos?


É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk


Hugo Carvalho - é economista e cronista. Já publicou mais de duzentas crônicas, nas quais o tema "charutos" é recorrente. Volta e meia costuma inserir em seus textos, aspectos particulares da sua visão da vida em São Gonçalo dos Campos-BA.

 

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Telefones: (075) 9133 1209 ou 3246 1744  

Via Skype: hbcarvalho


São Gonçalo dos Campos


Amigos.

Quando, há alguns anos, comecei a escrever sobre charutos era movido por preocupações de cunho meramente comercial. Marketing direto e telemarketing eram palavras da moda. 

Preocupava-me em explicar como são feitos os charutos, como são fumados, etc. Tais textos, quando hoje os releio, me parecem estéreis, enfadonhos. Transcrições adaptadas à minha linguagem, daquilo que outros disseram e redisseram, muito antes de mim, sobre a matéria.

Com o advento da Internet, então, nem se fala. “Choveram” sites sobre puros. Basta Você acessar qualquer um e irá encontrar, quase sempre, as mesmas ladainhas. Quantas vezes, navegando em sites charuteiros, encontrei palavras minhas (?). Ledo engano querer ensinar o padre-nosso ao vigário. Quem melhor sabe de charutos é Você que os consome. 

Evadi-me da vala comum. Abandonei as preocupações mercantis; troquei o marketing direto pelo Marketing de Relacionamento e passei a escrever pelo prazer de escrever e de fumar charutos.

Puxa! Como a vida mudou.

Agora, salvo ocasional recaída que o retrogosto dos puros provoca, não retroajo. Interajo consigo. Procuro dar novo sentido a nosso relacionamento tentando demonstrar serem os charutos, para quem neles se iniciou, parte integrante do cotidiano.

Tenho relutado em ter criado meu site na Internet, pois não gosto de falar com estranhos sem ter sido previamente apresentado. Não me sinto confortável em me expor para aqueles a quem não conheço. Essa característica pessoal meus charutos não corrigiram. Ao contrário, respeitam-na, pois eles não são para todo mundo. São apenas para pessoas especiais, como Você dileto amigo, que os curte nos, por si eleitos, melhores momentos de sua vida.

HUGO CARVALHO