FUMAÇA MÁGICA 239 |
São Gonçalo dos Campos/BA, 08 de agosto de 2006 |
ADOLESCENTE DAS LETRAS |
O
cronista, mesmo que não seja um apreciador de charutos, é um
idealizador da realidade. Se a espelhasse tal como se mostra, penso que
deixaria de ser cronista passando a ser um retratista.
Idealizar
a realidade exige, de quem a tanto se atreve, certa plasticidade de pensamentos
para, sem mentir, dizer as coisas que outros gostariam de ter dito. E é graças
ao discernimento, nato em muitos e, noutros, adquirido com o amadurecimento, que
se consegue definir situações nas quais, em lugar de se dizer a verdade, é
melhor insinua-la ou deixar pelo menos, uma parte dela fora da história.
Via de
regra, é preferível sermos amáveis a sermos sinceros. A amabilidade, reverso
da medalha da generosidade, é importante, posto que nem todo mundo gosta das
mesmas coisas, vota nos mesmos políticos, fuma os mesmos charutos, abraça os
mesmos valores, professa a mesma fé ou bebe na mesma fonte.
Minha avó
materna, dona, em vida, de uma falta de sensibilidade a toda prova – Deus a
tenha – sempre afirmava, alto e bom som, que era “muito branca e muito
franca”. Coitada. Sua extrema sinceridade não dava espaços a gestos de
gentileza e, por isso, deve andar encontrando algumas dificuldades lá por cima.
Transitava na contramão da comunicação humana. Se tivesse tido o dom da
escrita teria sido uma péssima cronista.
O
cronista, por ser quase um sonhador, é como se sempre fosse um adolescente das
letras. Como adolescente, “tenta captar o abstrato, dominar o significado
inefável do eu e do outro, determinar princípios próprios, procurando ancorar
tudo isso no mundo real”.
E,
por trabalhar com uma imaginação plástica e não com uma objetiva fotográfica,
ele está mais para um Salvador Dali do que para um Sebastião Salgado. Quase um
surrealista das letras vai, com o auxílio da metalinguagem, mostrar que a
realidade é fruto da responsabilidade de cada um naquilo que vê e que
testemunha, buscando em cada fato ou ato, um esgar de humor liquefeito em
palavras, pois, no fundo, tudo quanto se presencia neste mundo de meu Deus,
seria cômico se não fosse trágico.
É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk
Hugo
Carvalho
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São Gonçalo dos Campos
Amigos.
Quando, há alguns anos, comecei a escrever sobre charutos era movido por preocupações de cunho meramente comercial. Marketing direto e telemarketing eram palavras da moda.
Preocupava-me em explicar como são feitos os charutos, como são fumados, etc. Tais textos, quando hoje os releio, me parecem estéreis, enfadonhos. Transcrições adaptadas à minha linguagem, daquilo que outros disseram e redisseram, muito antes de mim, sobre a matéria.
Com
o advento da Internet, então, nem se fala. “Choveram” sites
sobre puros. Basta Você acessar qualquer um e irá encontrar, quase
sempre, as mesmas ladainhas. Quantas
vezes, navegando em sites charuteiros, encontrei palavras minhas (?). Ledo engano querer
ensinar o padre-nosso ao vigário. Quem melhor sabe de charutos é Você que os
consome.
Evadi-me
da vala comum. Abandonei as preocupações mercantis;
troquei o marketing direto
pelo Marketing de Relacionamento e passei a escrever pelo prazer de escrever e
de fumar charutos.
Puxa! Como a vida mudou.
Agora,
salvo ocasional recaída que o retrogosto dos puros provoca, não retroajo.
Interajo consigo. Procuro dar novo sentido a nosso relacionamento tentando
demonstrar serem os charutos, para quem neles se iniciou, parte integrante do
cotidiano.
Tenho
relutado em ter criado meu site na Internet, pois não gosto de falar com estranhos sem ter sido previamente apresentado. Não me sinto
confortável em me expor para aqueles a quem não
conheço. Essa característica pessoal
meus charutos não corrigiram. Ao contrário, respeitam-na, pois eles não são
para todo mundo. São apenas para pessoas especiais, como
Você
dileto amigo,
que os curte nos, por si eleitos, melhores momentos de sua vida.
HUGO CARVALHO