FUMAÇA MÁGICA 235 |
São Gonçalo dos Campos/BA, 04 de julho de 2006 |
FUMO NA LAPELA |
O
luto, sentimento de pesar ou dor por alguma perda irreparável, costumava nos
velhos tempos, se exteriorizar pelo uso de indumentária na cor preta, cor que,
em nossa cultura, está associada à dor e à morte. E, mesmo quando o luto “não
era fechado”, usava-se algo negro, para dizer aos outros da dor consentida.
Aos
homens enlutados, a gravata preta num terno de cor sóbria, compunha o visual.
Nos anos sessenta do século-que-já-se-foi, lembro-me bem, mantinha-se no
escritório uma gravata preta para as “emergências”. Eram reservadas para
funerais anunciados em cima da hora aos quais deveríamos, por dever de amizade
ou ofício, nos fazer presentes. Muitas vezes a denunciante gravata era até
motivo de brincadeiras. Ao retornarmos ao trabalho, tarde avançada, ao sermos
indagados, onde fôramos almoçar, com um malicioso duplo sentido, respondíamos
haver ido a um “enterro”.
A
par da gravata preta, como sinal de luto, era também uso corrente a fita crepe
preta, chamada de “fumo”, aplicada na lapela do paletó ou ao redor de uma
das mangas do mesmo. O “fumo” também se fazia presente no canto dos papéis
da correspondência pessoal e nos envelopes postais. Como se vê, portanto, fumo
não era somente o próprio tabaco ou a fumaça que se eleva dos corpos em
combustão.
O “fumo” na lapela era sinal público da dor do luto. Eu mesmo o usei por alguns meses após a morte de meu pai. Hoje ninguém mais sabe o que é isto. O que não deixa de ser muito bom. Afinal, se prevalecessem ainda os costumes de antanho, aqui na pátria amada do lábaro estrelado e das chuteiras, à sua bandeira auriverde se aplicaria uma tarja preta, suspendendo-a a meio pau na esplanada ministerial, pela mais midiática do que efetiva tristeza ante a derrota em campos futebolísticos. Ou, melhor ainda, a exemplo dos capitães dos times de futebol, e como era usual meio século atrás, o uso de uma tarja preta no braço de cada brasileiro, poderia ser decretado como sinal de um pseudoluto nacional.
É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk
Hugo
Carvalho
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São Gonçalo dos Campos
Amigos.
Quando, há alguns anos, comecei a escrever sobre charutos era movido por preocupações de cunho meramente comercial. Marketing direto e telemarketing eram palavras da moda.
Preocupava-me em explicar como são feitos os charutos, como são fumados, etc. Tais textos, quando hoje os releio, me parecem estéreis, enfadonhos. Transcrições adaptadas à minha linguagem, daquilo que outros disseram e redisseram, muito antes de mim, sobre a matéria.
Com
o advento da Internet, então, nem se fala. “Choveram” sites
sobre puros. Basta Você acessar qualquer um e irá encontrar, quase
sempre, as mesmas ladainhas. Quantas
vezes, navegando em sites charuteiros, encontrei palavras minhas (?). Ledo engano querer
ensinar o padre-nosso ao vigário. Quem melhor sabe de charutos é Você que os
consome.
Evadi-me
da vala comum. Abandonei as preocupações mercantis;
troquei o marketing direto
pelo Marketing de Relacionamento e passei a escrever pelo prazer de escrever e
de fumar charutos.
Puxa! Como a vida mudou.
Agora,
salvo ocasional recaída que o retrogosto dos puros provoca, não retroajo.
Interajo consigo. Procuro dar novo sentido a nosso relacionamento tentando
demonstrar serem os charutos, para quem neles se iniciou, parte integrante do
cotidiano.
Tenho
relutado em ter criado meu site na Internet, pois não gosto de falar com estranhos sem ter sido previamente apresentado. Não me sinto
confortável em me expor para aqueles a quem não
conheço. Essa característica pessoal
meus charutos não corrigiram. Ao contrário, respeitam-na, pois eles não são
para todo mundo. São apenas para pessoas especiais, como
Você
dileto amigo,
que os curte nos, por si eleitos, melhores momentos de sua vida.
HUGO CARVALHO