FUMAÇA MÁGICA 229

São Gonçalo dos Campos/BA, 09 de junho de 2006

 

NÃO RIAM

HUGO CARVALHO* 

 

Se prometerem que não irão rir contarei a história. Caso contrário vou me fechar em copas.

Negócio seguinte. Meu segundo casamento que durou vinte anos e do qual advieram uma filha e um filho, maravilhosos,  certo dia implodiu. Eu já fumava charutos. Coisas da vida. Já se passaram mais de quinze anos do infausto acontecimento. Que está morto e sepultado. Sem direito à católica ressurreição.

Passado o compreensível tempo de um não querer ver a cara do outro, as coisas se ajustaram. Civilizadamente. Quem já navegou em tais águas conhece suas ondas. Penso que meu caso foi um pouco mais, - como direi? - enfumaçado. Apesar de separados, eu então morando num hotel, (aqui tem uma vírgula, pausa portanto) com minha mulher me encontrava todos os dias em nossas lojas. Tínhamos tabacarias – com muitos charutos, – no Mercado Modelo e no antigo Hotel Meridien, lá em Salvador. E os charutos em vez de serem um divisor passaram a ser, além dos nossos filhos, o denominador comum. Foram os puros que nos mantiveram unidos por bom tempo após a separação.

Tu ficas com isso e aquilo. Eu fico com aquilo e isso. Acertos de contas que não existem quando a gente casa, mas que quando descasa...Toma, que isso é teu. Dá pra cá, que isso é meu. Papéis assinados. Separação sacramentada. Nada mais a ver um com o outro, em termos negociais ou contratuais.

Ledo engano. Acreditem. Mais de quinze anos passados da separação e eu permaneço, até hoje, “casado” com aquela que foi minha segunda mulher. Nosso plano-saúde ainda é o mesmo. Eu titular, ela dependente. Não riam, por favor. As despesas são divididas.


É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk


Hugo Carvalho - é economista e cronista. Já publicou mais de duzentas crônicas, nas quais o tema "charutos" é recorrente. Volta e meia costuma inserir em seus textos, aspectos particulares da sua visão da vida em São Gonçalo dos Campos-BA.

 

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São Gonçalo dos Campos


Amigos.

Quando, há alguns anos, comecei a escrever sobre charutos era movido por preocupações de cunho meramente comercial. Marketing direto e telemarketing eram palavras da moda. 

Preocupava-me em explicar como são feitos os charutos, como são fumados, etc. Tais textos, quando hoje os releio, me parecem estéreis, enfadonhos. Transcrições adaptadas à minha linguagem, daquilo que outros disseram e redisseram, muito antes de mim, sobre a matéria.

Com o advento da Internet, então, nem se fala. “Choveram” sites sobre puros. Basta Você acessar qualquer um e irá encontrar, quase sempre, as mesmas ladainhas. Quantas vezes, navegando em sites charuteiros, encontrei palavras minhas (?). Ledo engano querer ensinar o padre-nosso ao vigário. Quem melhor sabe de charutos é Você que os consome. 

Evadi-me da vala comum. Abandonei as preocupações mercantis; troquei o marketing direto pelo Marketing de Relacionamento e passei a escrever pelo prazer de escrever e de fumar charutos.

Puxa! Como a vida mudou.

Agora, salvo ocasional recaída que o retrogosto dos puros provoca, não retroajo. Interajo consigo. Procuro dar novo sentido a nosso relacionamento tentando demonstrar serem os charutos, para quem neles se iniciou, parte integrante do cotidiano.

Tenho relutado em ter criado meu site na Internet, pois não gosto de falar com estranhos sem ter sido previamente apresentado. Não me sinto confortável em me expor para aqueles a quem não conheço. Essa característica pessoal meus charutos não corrigiram. Ao contrário, respeitam-na, pois eles não são para todo mundo. São apenas para pessoas especiais, como Você dileto amigo, que os curte nos, por si eleitos, melhores momentos de sua vida.

HUGO CARVALHO