FUMAÇA MÁGICA 228 |
São Gonçalo dos Campos/BA, 06 de junho de 2006 |
NOBRE ASCENDÊNCIA |
O hábito de fumar, nas suas origens, esteve ligado a uma liturgia representada por rituais. Do tabaco se esperava poderes de magia, transcendência e cura. Enrolado em folhas, incandescido e aspirado pelos primeiros iniciados – os pajés do continente americano – ganhou mundo e se fez famoso. Charmoso. Os tempos senhoriais, das casas grandes e das senzalas, foram a época na qual os charutos imperaram.
Depois, como tudo que se pensa ser para todos, quando de fato não o é por sua essência, houve a transformação. Aos poucos, os puros foram sendo afastados cedendo lugar aos representantes da sua descendência.
Falo dos cigarros, os descendentes profanos dos charutos. O hábito de fumar, antes sofisticado gosto de uns poucos, transformou-se num gosto copiado para disfarçar vidas, muitas vezes medíocres. A indústria cinematográfica, a vendedora das ilusões hoje propagadas pela TV, em muito contribuiu para o crescimento dos filhos bastardos dos puros.
E foi o que se viu décadas atrás. Um fumacê geral. A ponto de, em cinemas e teatros, as costas das poltronas disporem de cinzeiro encaixado. Fumava-se a todo o momento e em qualquer local. Nos hospitais, nas repartições públicas, nos dormitórios, nas salas, nos banheiros. Lembro que até nas escolas. Vivi isso pessoalmente. Quando se alcançava o último ano do curso secundário (o chamado, então, 3º ano científico) adquiria-se o “direito a fumar” nas salas de aula.
Depois chegaram os tempos da contra-reforma. O fundamentalismo antitabaco assentou praça e ai daqueles que se atrevam enfrenta-lo. Irredutível e sem distinguir alhos de bugalhos (e de “bagulhos”) jogou na vala comum das discriminações o filho profano e o pai espiritual, nivelando a nobre ascendência com a triste descendência.
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Hugo
Carvalho
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São Gonçalo dos Campos
Amigos.
Quando, há alguns anos, comecei a escrever sobre charutos era movido por preocupações de cunho meramente comercial. Marketing direto e telemarketing eram palavras da moda.
Preocupava-me em explicar como são feitos os charutos, como são fumados, etc. Tais textos, quando hoje os releio, me parecem estéreis, enfadonhos. Transcrições adaptadas à minha linguagem, daquilo que outros disseram e redisseram, muito antes de mim, sobre a matéria.
Com
o advento da Internet, então, nem se fala. “Choveram” sites
sobre puros. Basta Você acessar qualquer um e irá encontrar, quase
sempre, as mesmas ladainhas. Quantas
vezes, navegando em sites charuteiros, encontrei palavras minhas (?). Ledo engano querer
ensinar o padre-nosso ao vigário. Quem melhor sabe de charutos é Você que os
consome.
Evadi-me
da vala comum. Abandonei as preocupações mercantis;
troquei o marketing direto
pelo Marketing de Relacionamento e passei a escrever pelo prazer de escrever e
de fumar charutos.
Puxa! Como a vida mudou.
Agora,
salvo ocasional recaída que o retrogosto dos puros provoca, não retroajo.
Interajo consigo. Procuro dar novo sentido a nosso relacionamento tentando
demonstrar serem os charutos, para quem neles se iniciou, parte integrante do
cotidiano.
Tenho
relutado em ter criado meu site na Internet, pois não gosto de falar com estranhos sem ter sido previamente apresentado. Não me sinto
confortável em me expor para aqueles a quem não
conheço. Essa característica pessoal
meus charutos não corrigiram. Ao contrário, respeitam-na, pois eles não são
para todo mundo. São apenas para pessoas especiais, como
Você
dileto amigo,
que os curte nos, por si eleitos, melhores momentos de sua vida.
HUGO CARVALHO