FUMAÇA MÁGICA 226

São Gonçalo dos Campos/BA, 30 de maio de 2006

 

SENTENÇA FATAL

HUGO CARVALHO* 

 

Falar da Bahia é, entre outras coisas, falar de seus charutos e de seus terreiros. Aos charutos tenho sempre destacado em minhas crônicas. Nunca porém falei dos terreiros os quais, quando cá cheguei, há mais de quatro décadas, ciceroniado por baianos entendidos das coisas da terra, visitei e conheci.

Não nego que, por questões culturais herdadas, me foi difícil aceitar tais manifestações repletas de toques de tambor e cânticos próprios. Aquele negócio de orixás, sacrifícios cruentos, homens de um lado, mulheres do outro, danças ritualísticas, mexia com minha cabeça. A qual, por isso, nunca “foi feita”. Limitei-me sempre a apreciar, entender e respeitar os princípios de uma das religiões não cristãs.

Bem mais tarde, quando andei trabalhando na fábrica de charutos Suerdieck, em Maragogipe, em tal cidade conheci o terreiro Ilê Alabaxé, de Pai Edinho. Um figuraço. É o próprio babalaô, o senhor dos segredos.

Pois agora a boa notícia. A Bahia passou  reconhecer os terreiros como parte integrante de seu patrimônio artístico e cultural, concretizando tal reconhecimento com o tombamento de, até aqui, seis terreiros de candomblé. Já foram tombados – e acostume-se com os nomes – o Ilê Axé Opô Aganju, o São Jorge Filho da Goméia, o Pilão de Prata, o Ilê Axé Oxumarê, o Ilê Axé Opô Ajagunã e o Ilê Alabaxé.

É verdade que ainda é pouco pois no estado são 4,7 mil terreiros. Mas, por outro lado, já é um muito se confrontado com o nada de reconhecimento junto às sobreviventes manufaturas de charutos do estado. Sem incentivos, sem reconhecimento, pressionadas pela onda antitabagista, que é internacional, e oneradas com impostos altíssimos estão com sua sentença fatal decretada. Mais cedo ou mais tarde, desaparecerão como tantas outras do passado e bem maiores.


É autorizada a reprodução desta crônica em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e seu autor. www.hugocarvalho.tk


Hugo Carvalho - é economista e cronista. Já publicou mais de duzentas crônicas, nas quais o tema "charutos" é recorrente. Volta e meia costuma inserir em seus textos, aspectos particulares da sua visão da vida em São Gonçalo dos Campos-BA.

 

E-mail: hugocharutos@uol.com.br

Telefones: (075) 9133 1209 ou 3246 1744  

Via Skype: hbcarvalho


São Gonçalo dos Campos


Amigos.

Quando, há alguns anos, comecei a escrever sobre charutos era movido por preocupações de cunho meramente comercial. Marketing direto e telemarketing eram palavras da moda. 

Preocupava-me em explicar como são feitos os charutos, como são fumados, etc. Tais textos, quando hoje os releio, me parecem estéreis, enfadonhos. Transcrições adaptadas à minha linguagem, daquilo que outros disseram e redisseram, muito antes de mim, sobre a matéria.

Com o advento da Internet, então, nem se fala. “Choveram” sites sobre puros. Basta Você acessar qualquer um e irá encontrar, quase sempre, as mesmas ladainhas. Quantas vezes, navegando em sites charuteiros, encontrei palavras minhas (?). Ledo engano querer ensinar o padre-nosso ao vigário. Quem melhor sabe de charutos é Você que os consome. 

Evadi-me da vala comum. Abandonei as preocupações mercantis; troquei o marketing direto pelo Marketing de Relacionamento e passei a escrever pelo prazer de escrever e de fumar charutos.

Puxa! Como a vida mudou.

Agora, salvo ocasional recaída que o retrogosto dos puros provoca, não retroajo. Interajo consigo. Procuro dar novo sentido a nosso relacionamento tentando demonstrar serem os charutos, para quem neles se iniciou, parte integrante do cotidiano.

Tenho relutado em ter criado meu site na Internet, pois não gosto de falar com estranhos sem ter sido previamente apresentado. Não me sinto confortável em me expor para aqueles a quem não conheço. Essa característica pessoal meus charutos não corrigiram. Ao contrário, respeitam-na, pois eles não são para todo mundo. São apenas para pessoas especiais, como Você dileto amigo, que os curte nos, por si eleitos, melhores momentos de sua vida.

HUGO CARVALHO