Artigos do Gregório Heckerling

Reflexões de um Cachimbeiro

 

Dominado o fogo,o homem cozinhou alimentos e achou que podia aproveitar o seu subproduto mais obvio. Talos de plantas com caule oco serviram para aspirar a fumaça --que não era lá essas coisas.

Mas o cachimbo estava inventado.

O homem sempre procurou aspirar, se não a um alto destino, ao menos a qualquer coisa que lhe provoque a sensação de euforia, lucidez ou calma.

Usou rape nas narinas, agora usa cocaína. Entre o rape e a coca, o fumo ficou no meio termo e, antes da onda que o acusa de dar câncer, infarto e impotência, ele foi tão importante que até hoje figura, em formas de folhas verdes, no escudo oficial do Brasil.

 

Folhas de Café

 

 

 

 

Folhas de Tabaco

 

 

 

 

Primeira regra obedecida fanaticamente por quem não sabe fumar "deixar-se fotografar de cachimbo na boca ou nas proximidades". Bing Crosby, por exemplo, com aquela voz de Papai Noel que fazia sucesso no Natal, foi um dos emblemas do mau fumador de cachimbo. Nove entre dez capas de seus discos o mostram segurando o cachimbo. Roberto Carlos não fica atrás.

O encanto do cachimbo é outro. Ele foi feito para o silencio, ate mesmo a solidão. É o companheiro da reflexão, equipamento de mergulho para o homem dentro de si mesmo. É muito eficiente, também para depois do amor.
A começar pelo perfume, que combina com o cheiro dos lençóis ---se á lençóis na jogada. E pela nuvem da fumaça que cria no espaço aquelas curvas arrendodadas, que entram uma dentro das outras. Olhadas com atenção, essas curvas convidam para mais uma vez.
Antes da descoberta das virtudes da raiz de Bruyere e de espuma do mar, havia um único tipo de cachimbo conhecido na Europa,de barro ou porcelana.Hoje, a despeito de sua qualidade e do baixo preço,caiu em desuso.Mas e uma Historia que se estende por mais de quatrocentos anos, através da Europa.
Logo depois do cachimbo de barro ou porcelana, foi o cachimbo de espuma do mar que deu traços de nobreza ao uso do tabaco. O cachimbo de espuma do mar é sem duvida, o mais nobre dos cachimbos.
As crônicas registram que em 1723 o Conde Gyula Andrassy, voltando de uma missão diplomática na Turquia, teria trazido um bloco desta matéria. O austríaco, que tinha a seu serviço um sapateiro chamado Karel Kovacks, que exercia sua habilidade manual na decoração de pequenos objetos, pede-lhe para esculpir um cachimbo.
O trabalho ficou perfeito e o Conde encantado diante do resultado obtido com o trabalho do seu sapateiro.
E se o cachimbo de espuma do mar é o melhor, é também o mais exigente. Sua fabricação, o trabalho de esculpir, para uso, devem ser objeto de constante atenção para quem quer chegar a perfeição de ter a seu uso o mais maravilhoso dos cachimbos. A espuma é um silicato de magnésio muito tenro e poroso. É esta ultima qualidade que vai lhe permitir adquirir sua cor, em permanente mutação pela ação do alcatrão do tabaco.
Diante das fragilidades dos materiais, custo excessivo da espuma do mar, os fabricantes pesquisaram e chegaram na madeira.
Embora combustível, parecia indicada pela facilidade de ser trabalhada e pelo seu custo razoável.
Depois de 1850, a Bruyere e o material mais utilizado, ainda concorrendo com a porcelana e a espuma do mar.
Provinha essencialmente da Algeria, na época em que o pais era um departamento francês.
Hoje a Bruyere é obtida em outros paises da área  mediterrânea.
A Bruyere marroquina é a mais delicada, a grega a mais popular nos anos sessenta e a mais dura.
Hoje em dia a mais utilizada é a Bruyere da Corsega, em face da relação perfeita de durabilidade e leveza. Nos anos sessenta ,com a recolocação da produção cachimbeira de luxo na Itália, as Bruyeres da Toscana e da Calabria adquiriram certo renome.
Gostaria de chamar a atenção para os cachimbos, não tão conhecidos como os Dunhill, mas pela sequiosidade de qualidade e das satisfações da clientela, a loja do 9 Amagertorv, no centro de Copenhague, foi fundada em 1864 por Wilhelm Ockenholt Larsen. Especializado em charutos desde 1930, o setor se desenvolveu rapidamente na comercialização de tabacos para cachimbos e cachimbos. Com grande qualidade e beleza com originalidade.
Na França foi a cidade de Saint -Claude, que se desenvolveu na produção de tabacos e cachimbos de luxo.
O primeiro nome a sobressair na Historia dos fabricantes modernos e de um irlandês, Peterson. Dois irmãos Kapp se estabeleceram como vendedores de tabaco, e em 1865, na Grafton Street, em Dublin. Encantados pela reputação luxuosa do seu estabelecimento, ignoravam então que iriam entrar de forma tão positiva na Historia do cachimbo.
Sua loja vendia cachimbos de espuma e de Bruyeres de qualidade, quando um dia, Charles Peterson propôs aos dois produzir cachimbos, dotados de aperfeiçoamentos técnicos, particularmente interessante. A sociedade ganha o nome do novo sócio e Peterson torna-se sinônimo de qualidade sem igual.
O aperfeiçoamento trazido, em 1898, reside no arranjo que permite uma armadilha contra o alcatrão no fundo do fornilho e de um furo particular, na extremidade da piteira,que dirige a fumaça não na direção da extremidade sensível da língua,como os demais, mas em direção da abóbada do palato. Os modelos são numerosos, mas elegem um gosto absolutamente perfeito.
Séries limitadas de Bruyeres de primeira escolha são igualmente oferecidas aos fãs incondicionais da marca, com sua loja estabelecida em Dublin, no mesmo endereço, 117 Grafton Street.
Quem quer que se detenha de forma reflexiva sobre o mundo dos tabacos e dos cachimbos, haverá de ressaltar uma palavra que se manifesta sem cessar, A QUALIDADE. Com efeito, o declínio atual do cachimbo e, antes de tudo, quantitativo, é possível constatar-se que continuam existindo amantes do fumo que optam pelo cachimbo.
Sob esse angulo, os cachimbeiros dispõem de dois grandes trunfos, a menor nocividade do cachimbo em relação ao cigarro e a atração que representarão sempre estes belos objetos bem fabricados para aqueles que cultivam uma certa e prazerosa  "ARTE DE VIVER".

Sigismundo Gregorio Heckerling <gregheckerling@yahoo.com.br